O Pix surgiu em novembro de 2020, uma tecnologia que revolucionou o modo de realizarmos transações e transferências entre amigos e parentes, tudo isso sem a necessidade de pagar nenhuma tarifa. Na época, especialistas previam que transações realizadas por TED e DOC fossem ser extintas. O sucesso do Pix foi gigante, e ao mesmo tempo teve uma rápida disseminação em sua popularidade, fazendo assim o tipo de transferência bancária mais utilizado no país. Agora em 2022, tendo mais de um ano de existência, o número de transações realizadas são quase 20 vezes mais que o modelo TED, de acordo dados do Banco Central.

Porém, especialistas também previam e teorizavam que a utilização do cartão de débito também poderia perder espaço e preferência para o Pix, conforme comerciantes e prestadores de serviço começassem a adotar o novo método de pagamento, algo que tem acontecido aos poucos. Até o momento, o cartão de débito ainda sobra em comparação ao Pix e segue em expansão, embora já hajam relatos negativos de seu impacto no mercado. A Stone, por exemplo, uma das principais adquirentes do país, disse a analistas do mercado que estima que o Pix pode substituir cerca de 5% dos pagamentos que registra no débito.

Pesquisa realizada pela consultoria Colink Business Consulting, destaca que 95% dos executivos do setor de pagamentos acreditam que o Pix deve tomar espaço das transações com cartão de débito, pressionando as margens de lucro das empresas de pagamentos. Mas a pergunta que surge após esses dados é: o cartão de crédito também está ameaçado?

Cartão de crédito está em risco?

O Pix deixou a sua marca registrada no setor financeiro, mas essa não será a última vez que a tecnologia irá provocar ondas no setor financeiro. Com o surgimento do Pix Garantido, uma nova modalidade de pagamento que ainda será lançada pelo Banco Central e tem como atrativo a função de parcelar transações sem precisar ter dinheiro em saldo — do mesmo jeito que o cartão de crédito faz, sendo a principal fonte de receita das maquininhas e um dos pilares do relacionamento que os bancos mantêm com seus clientes.

O cartão de crédito é com toda certeza, o tipo de pagamento eletrônico mais utilizado pelos brasileiros na hora de efetuar uma compra, seja em uma loja física ou no e-commerce. Só no primeiro trimestre deste ano, foram R$ 478,5 bilhões em compras feitas no crédito no Brasil, mais que o dobro do cartão de débito, que somou R$ 235,4 bilhões, de acordo com dados da Abecs, a associação que representa as empresas do setor.

O cartão de crédito ainda assim é importante para o setor não só por causa do maior volume transacionado, mas também porque as maquininhas cobram do lojista uma taxa maior em cada pagamento, em comparação ao débito. O setor também ganha dinheiro com a chamada antecipação de recebível. Quando uma compra é feita no crédito, o lojista só recebe o dinheiro 28 dias depois. Ele pode, caso queira, solicitar à empresa da maquininha que o recurso seja antecipado, mas também irá pagar uma outra taxa por isso.

Um exemplo de uma líder no setor de pagamentos no Brasil é a Cielo, e com uma forte presença no varejo físico, o negócio de antecipação de recebíveis atingiu R$ 26,4 bilhões em transações no primeiro trimestre, alta de 31% em relação a igual período do ano passado e o equivalente a um quinto do total de pagamentos feitos no cartão de crédito. O Pix Garantido ainda não tem previsão para ser lançado pelo BC, mas vai basicamente permitir que um consumidor sem saldo na conta possa agendar um pagamento para uma determinada data. Se a data chegar e ele continuar sem saldo, o banco garante o pagamento e o consumidor passa a dever para o banco. No papel, é um produto de crédito e, assim como o cartão de crédito, também vai viabilizar o parcelamento.

O impacto disso no negócio de maquininhas vai depender de quais serão as regras de utilização do Pix Garantido, que ainda estão estudo pelo Banco Central, porém se o cartão de crédito perder espaço, é natural que as empresas do setor sintam uma pressão na receita.

Para os bancos, o efeito é mais indireto. O cartão de crédito é um dos três pés que ainda sustentam o relacionamento de uma instituição bancária com seus correntistas, ao lado dos gerentes das agências e dos convênios com empresas para pagamento de salários dos funcionários. Mas com a digitalização cada vez mais presente dos serviços financeiros, os gerentes têm perdido espaço. E, com a possibilidade da portabilidade de conta-salário que os brasileiros, isso torna o último ponto não muito relevante ou diferente. O cartão de crédito, porém, ainda resiste, principalmente devido aos programas de milhagem e outros benefícios que oferece.

No cenário de popularização do Pix Garantido, o cartão de crédito perde espaço, os bancos tendem a cobrar uma comissão menor, por causa da maior concorrência. O resultado são os bancos tendo uma receita mais tímida com esse produto e terão menos condições de oferecer bons benefícios. Se os benefícios serão piores, o correntista terá menos incentivos para usar o cartão de crédito do banco.

Oportunidades

Entretanto, quando olhamos por uma visão diferente o Pix Garantido pode habilitar aos bancos a oportunidade de tomar o lugar das maquininhas no negócio de antecipação de recebíveis, o banco de investimento que é uma parceria entre o banco suíço UBS e o Banco do Brasil. Especialistas ressaltam que, ainda que o Pix Garantido tome o lugar do cartão de crédito em compras parceladas, ele ainda vai continuar havendo demanda dos lojistas para receber o dinheiro de forma antecipada. Nesse cenário, as empresas que atuam com maquininhas são as mais ameaçadas. Mas não necessariamente quer dizer que será o fim do mundo.

Um bom caminho para lidar com esse cenário é que as empresas adquirentes ajudem o estabelecimento a integrar o extrato de pagamentos feitos na maquininha com o software de gestão da loja, a famosa “frente de caixa”.

Desta forma ao invés de o lojista imprimir cada recibo da maquininha e depois fazer a conferência das vendas, ele poderia já ter tudo conciliado no mesmo sistema. Contudo, se o setor não ficar esperto, pode acabar perdendo esse mercado para as próprias companhias de tecnologia que desenvolvem softwares de gestão para as lojas. Agora em relação ao Pix Garantido, a previsão dos especialistas é que modalidade não tenha força o suficiente para roubar mercado do cartão de crédito. Na avaliação deles, o novo tipo de Pix provavelmente será mais relevante para o mercado de empréstimos pessoais, como mais um canal de geração de crédito.

Entretanto, com ou sem novas iniciativas do mercado, tecnologias surgem a todo o momento, algumas podem realmente sumir, mas sempre existe a possibilidade de coexistência, tornando desta maneira muito cedo para afirmar que os cartões vão morrer.